quinta-feira, 3 de março de 2011

Marcada.









Eu nunca pensei na morte de modo constante como nos últimos dias.
A seis anos eu descobri que sou portadora de uma doença raríssima e muito grave, mas já havia me acostumado com essa minha nova vida, aliás ninguém nunca pronunciou que eu morreria ou que corria esse risco, mas no meu último exame descobri que o meu organismo não está mais respondendo aos tratamentos, e ás vezes ele rejeita alguns medicamentos. Estou aflita, com muito medo, e ninguém me dá certeza de melhora.
Hoje no caminho de  ida ao hospital, encontrei uma pessoa que mudou o meu dia, eu nem o conheço, foi a primeira vez que o vi, mas já foi o suficiente para eu me apaixonar. Aquele rosto, aqueles olhos...ele tinha uma beleza diferente, era bem corado e tão forte, ao contrário de mim, uma garota pálida e doente. Não me esquecerei aquela feição, parece até que foi lapidada. O cabelo bagunçado de uma cor incrível , até parece que foi feito para mim.
Continuei o meu caminho com cara de boba e o pensamento longe. Os meus exames me trouxeram tudo, uma esperança, a médica me disse que havia uma grande evolução, os tratamentos da última semana havia tido algum efeito. Fiquei feliz mas mesmo assim, procurei não criar falsas expectativas, a médica também me pediu para voltar no próximo dia para refazer os exames e continuar o tratamento.


No dia seguinte (terça-feira)
Estou ansiosa para ir ao hospital, mas não para fazer exames, mas por ter expectativas de talvez encontrar aquele garoto. 
No caminho nada dele ,senti meu coração apertado, pequeno e triste dentro de mim, nem o conhecia mas já sentia falta de vê-lo, saudades... não sei. Estava na sala de espera do hospital quando a Doutora me chamou, meu coração acelerou, e parou ao mesmo tempo, senti um misto de medo e ansiedade. Fiz meus exames e tomei alguns medicamentos, os resultados sairia naquele mesmo dia, então deveria esperar, me lembrei que como saí da escola e fui direto para o hospital não almocei, a doutora Lígia me recomendou para almoçar no refeitório do hospital e foi o que eu fiz.
Cheguei lá, fiz meu prato e quando me dei conta não havia nenhum lugar vago para me sentar, foi aí que um garoto que estava sentado em uma mesa sozinho me convidou para o acompanhar, decidi aceitar o convite ou teria de ficar de pé. Quando me sentei e o olhei descobri que era ele, o garoto do dia anterior, aquele que me enfeitiçara com aquele olhar. Meu coração tentou sair pela minha boca, tudo nele me atraiu de uma forma tão mágica, senti que estava escrito que ele surgiria na minha vida. Um silêncio horrível permaneceu ali por uns minutos quando ele me perguntou:
-Desculpe a indelicadeza mais o que você faz aqui? Você está doente?
Embora o meu rosto pálido e minha fraqueza estivessem totalmente aparente, tive de mentir, não me sentia bem ao ver as pessoas com pena e dó de mim.
-Não! Eu sempre venho visitar umas crianças que são portadoras de uma doença rara que toma conta de seus sangues e depois do corpo inteiro. Mais e você o que faz aqui?
-Ah! Eu vim visitar minha mãe que fez uma cirurgia e está de repouso. E a propósito meu nome é Augusto, e você como se chama?
-Prazer Augusto, meu nome é Anie!
-Nome bonito!
-O seu também é muito bonito.
Nós sorrimos, ele ficava ainda mais lindo quando sorria, aqueles seus olhos verdes e misteriosos sorriam junto com ele, todo corpo dele era de uma harmonia incrível, fiquei hipnotizada acho até que ele percebeu, mas tive de acordar com a Doutora Lígia me chamando. Me despedi dele e fui ver o resultados do meu exame.
Quando entrei na sala da doutora um medo invadiu minha mente, e cada pedaço do meu corpo se arrepiou. Ela pegou na mão o diagnóstico e a expressão que ela fez entrou no meu pensamento trazendo um turbilhão de coisas horríveis que eu temia ser verdade. Ela me entregou o diagnóstico para que eu mesma pudesse me dar aquela facada que arrancaria qualquer esperança que existia, ali estava a minha sentença, eu teria pouco tempo de vida, que tempo era esse? ninguém sabia ao certo, mas meu organismo não está mais reagindo.
Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto quando ela tentou me dizer para ter esperança, e força para os tratamentos mais ofensivos, mas de que adiantaria se a minha vida estava com os dias contados? Saí da sala da doutora correndo e parei ali mesmo no corredor para chorar, me permiti a essa cena, uma cena de desespero em pleno hospital onde muitas pessoas estavam passando e me encarando como se estivessem se perguntando o que aconteceu comigo.
De repente sinto um abraço amansando a minha dor e meu sofrimento, um abraço que de certa forma me dava alivio e forças para encarar a minha vida, quando me soltei daquele abraço já mais calma percebi que era Augusto, ele me olhava de uma forma... fiquei com medo de que ele tivesse descoberto a minha doença.
-O que você tem? Porque está chorando?
-Aí Augusto, me dói tanto ver aquelas crianças sofrendo!
-Tem certeza que é isso mesmo o motivo para tanto choro? Pode confiar em mim, conte o que está acontecendo com você!
Suspirei.
-Augusto a verdade é que eu tenho essa doença, e meu estado está cada vez mais difícil, não aguento mais.
Não tive coragem de contar sobre meu pouco tempo nesse mundo, por medo e tentando me fazer esquecer tudo que eu havia lido naquele diagnóstico.
-Ei, você tem que ter força, tenha fé você vai ficar bem.
Ele falava de uma forma tão verdadeira que quase acreditei se não fosse pelo fato do resultado do meu exame, que num dia estava perfeito e no outro acabava com a minha vida. Nos abraçamos mais uma vez e fomos embora daquele lugar,o caminho inteiro conversamos sobre muitas coisas, e que por sinal tínhamos muitas coisas em comum, ele era perfeito em tudo, sua voz era confortadora, seu olhar era compreensível e misterioso, e isso me encantava, não só isso mas tudo nele.
Quando voltei para casa decidi não contar para meus pais a novidade daquele dia, eu odiava os ver sofrendo e de uma forma indireta por minha culpa, me doía o coração ver minha mãe chorando toda vez em que um exame ficava pronto ou então com a má notícia de o meu tratamento não estar dando os resultados esperados, meu pai escondia, mais não muito bem, eu via pelos olhos dele a tristeza quando tocávamos no assunto da minha doença.
Eles nem desconfiaram, acharam até que os resultados estavam ótimos por causa do sorriso que estava estampado no meu rosto, minha mãe chegou até a dizer que parecia apaixonada pois meus olhos brilhavam. Fiquei com vergonha mais decidi não contar por enquanto o meu encantamento por uma pessoa tão especial. Me sentia mal por estar escondendo tantas coisas assim dela, afinal ela sempre foi minha melhor amiga, mas ela pareceu entender meus motivos.
Naquela noite demorei para pegar no sono, chorei bastante ,as vezes sorri ao lembrar de Augusto e da tarde que passei com ele, mas a tristeza de ter a vida reduzida em anos, meses, dias... sempre vinha e tornava a me fazer chorar litros e litros.
                                        
                                               Outro dia (quarta-feira)
Hoje eu acordei muito indisposta, e percebi que meus pais já tinham ido trabalhar e me deram um dia de folga, não iria a escola naquela manhã. Foi um alivio já que meu dia anterior e minha noite haviam sido horríveis, passei aquele dia aproveitando ao máximo, foi assim que nessa noite decidi viver, aproveitando meus últimos momentos, realizando todos meu sonhos. Não posso dizer que teria me acostumado com o fato de ter pouco tempo de vida, mas quero ser "feliz".
Desde que descobri minha doença meus pais me deixam fazer coisas que outros pais não deixariam, claro que eles se preocupam comigo, mas me dão liberdade para fazer certas coisas. Lembrando disso que decidi ir a uma praia perto de casa, uma praia deserta e linda,
um lugar perfeito para colocar meus pensamentos em ordem e curtir um pouco daquele lugar.

Deixei um recado na geladeira arrumei uma bolsa, peguei meu dinheiro e fui até o ponto de ônibus, e foi ali que Augusto me gritou, mas foi um grito parecido com desespero, parecia que ele estava me procurando a anos e finalmente me encontrara, fiquei tão feliz ao vê-lo. Ele chegou até mim e me perguntou onde estava indo, quando contei, ele se convidou para ir comigo, e eu é claro aceitei a companhia que me faria muito bem. Ele era a única pessoa que me fazia ficar bem mesmo com uma doença incurável.
Seguimos de ônibus até uma rua a dois quarterões da praia,e todo o caminho nos divertimos muito, e cada vez mais ele me encantava, a forma com que ele me olhava era perfeita, ele era perfeito, e por isso eu não queria que ele se apaixonasse por mim, eu era feia, frágil e ainda por cima com pouco tempo no mundo, eu sofria só de pensar que se isso acontecesse ele iria sofrer muito com minha partida, mas nós não mandamos no nosso coração, por mais que minha situação fosse difícil o coração não entende certas coisas.
A praia estava linda,mais do que qualquer outro dia, aquele mar esverdeado, as ondas em perfeita harmonia, o dia estava quente, quando coloquei os meus pés na areia, aquela areia macia e morna, a praia estava mais deserta do que qualquer dia, para a nossa felicidade já que queríamos ficar sozinhos. Eu não quis entrar no mar, apenas molhei os meus pés e curti o dia. Enquanto caminhava na parte mais rasa do mar o Augusto me disse:
-Eu tava olhando para você desde quando nós nos encontramos no ponto de ônibus hoje, e sabe você nem parece doente, você é tão bonita, e eu fico tão bem quando estou com você.
-Nossa assim você me deixa sem graça, mas obrigada. Tenho que admitir que você também me faz bem, ontem no hospital você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu estou muito mal com tudo que está  acontecendo e você está me ajudando a superar essa fase da minha vida, mais eu espero que você não sofra como as pessoas a minha volta.
-Você ficou sem graça? Quem está sem graça sou eu, mas fico feliz por estar fazendo parte da sua vida da mesma forma que você faz parte da minha, e não se preocupe todo mundo sofre quando se está apaixonado, e você não precisa se preocupar comigo, e em tudo que puder te ajudar pode contar comigo.
Como isso pode acontecer? Apaixonado? Mais e agora? Eu estava totalmente perdida e confusa, não queria que nada acontecesse entre nós eu não queria sofrer sabendo que nosso amor seria mortal, que um dia acabaria tudo como quando acordamos de um sonho, eu não sentiria a dor da perda desse momento, eu estaria morta mas e o Augusto, como ele superaria essa pancada, foi aí que reforcei a minha vontade de manter em segredo a minha morte, mais do que nunca isso deveria ficar apenas entre eu e eu mesma.
-Sempre que eu precisar Augusto?
-Sim, em qualquer hora.
-Eu preciso de você agora, quero que você fique comigo aqui agora para eu ter uma boa lembrança da gente.
-Se você precisa eu fico, e ficarei até você não precisar mais de mim.
Nos abraçamos e ficamos assim por um bom tempo, depois fomos brincar na areia, escrevemos nossos nomes ali, e assim nos divertimos até o anoitecer.
-Nossa esse pôr do sol é maravilhoso Anie, você já veio aqui antes?
-Eu vim uma vez apenas, mas hoje eu sonhei com esse lugar e me deu uma vontade imensa de voltar.
-Eu quero agradecer você por ter me feito feliz hoje, foi o melhor dia da minha vida, e com a melhor pessoa que eu conheci, eu nunca vou esquecer esse dia.
-Não, você me fez feliz hoje, e fico mais feliz por saber que terá lembranças de mim.
-Eu nunca vou esquecer você, eu não quero te esquecer NUNCA.
Isso me doeu, mais do que quando ele me revelou que estava apaixonado por mim, eu não quero vê-lo sofrer mais também não posso afastar-me dele, eu saberia como viver longe dele, e seria pior para ele quando eu partisse.
-Eu também nunca esquecerei de você, e nem do bem que está me fazendo.
-Você está vendo esse céu? Não é maravilhoso? E é mais ainda com você aqui.
Nós nos deitamos na areia e ficamos olhando o céu e aquelas estrelas, estava tudo tão lindo naquela noite, não importava o lugar mais quem estava ali comigo. Eu já estava apaixonada por tudo que estava acontecendo com a gente. Foi nessa hora que meu celular tocou, e minha mãe me pediu para voltar pois já era noite e iria chover.
Voltamos para casa, ele me acompanhou até o portão quando começou a chover forte,c onvidei ele para entrar e a chuva fez ele aceitar. Meu pai ainda não tinha chegado, só minha mãe estava em casa, ela adorou o Augusto, e o convidou para jantar, percebi que ele ficou envergonhado.
-Vamos Augusto fique para jantar, eu iria gostar muito.
-Ok! desse jeito eu sou obrigado a ficar.
Nós três rimos. Fomos para sala enquanto minha mãe terminava o jantar.
-Nossa eu fiquei com vergonha de jantar com sua mãe, mas resolvi aceitar para completar o meu dia perfeito.
-Fico feliz por você ter aceitado, você vai adorar a comida da minha mãe.
-Com certeza eu vou.
Nada poderia estragar aquele dia, nada mesmo, estava tudo tão perfeito, que se eu pudesse faria daquilo eterno, se fosse possível repetir aquele momento para sempre eu o faria. Mas quando pensei que não tinha como ficar mais perfeito a vida me surpreende. Tínhamos jantado e a chuva havia passado, eu fui levar Augusto até a rua.
-Anie hoje eu fui o homem mais feliz do mundo, e a muito tempo eu não me sentia tão feliz, a minha mãe descobriu que estava com câncer nós passamos por muitas dificuldades e eu estava me sentindo muito mal por tudo que estava acontecendo, mas quando você apareceu o meu mundo começou a girar novamente você foi a melhor coisa que me aconteceu.
-Nossa Augusto mais a sua mãe está bem agora?
-Sim ela fez a cirurgia e está praticamente curada, felizmente o câncer era benigno. Mais eu tenho medo sabe, tenho medo dele voltar.
-Uma vez alguém me disse para ter fé que tudo iria dar certo,  e eu acreditei, e eu estou tendo fé, agora é sua vez de ter.
-Eu terei fé, e se você me ajudar eu ficarei mais feliz, mas agora eu tenho que ir, vou passar no hospital antes de ir para casa.
-Tchau, Augusto a gente se vê outro dia.
Ele me respondeu já se afastando:
-Tchau, Anie!!
Nessa hora meu coração acelerou eu comecei a tremer, minhas pernas ficaram bambas e fiquei muito feliz.
Minha mãe desconfiou mais não me perguntou nada, acho que ela está esperando eu contar para ela, e foi exatamente o que eu fiz, nós fomos para o meu quarto sentamos na cama e ela me deixou falar com toda a liberdade.
-Mãe,meu dia foi perfeito!! Eu acho que estou sonhando e não quero acordar nunca!
-Mais filha o que aconteceu, você e o Augusto estão namorando?
-Não mãe, mas nós estamos apaixonados, aaah ele é perfeito, ele até me fez esquecer que eu vou...
-Vai o que Anie?
-Não mãe eu não vou nada, mais ele me fez esquecer da minha doença.
-Ai, filha o amor é assim mesmo, quando estamos com a pessoa que amamos tudo fica pequeno.
E era exatamente assim que eu estava me sentindo, desde o primeiro dia, e era assim que gostaria de me sentir para sempre. Depois dele eu parei de pensar na morte, de falar sobre ela o tempo todo, e até a temer que ela chegasse mais rápido.


                                         Próximo Dia (quinta-feira)

Hoje eu já acordei super disposta, parece até que todas as energias que havia perdido nos tratamentos voltassem, como se recarregasse a minha bateria, e era mais um motivo para eu agradecer a Deus por colocar o Augusto na minha vida. Eu me troquei e minha mãe me levou para a escola. Até as aulas foram mais fáceis para mim hoje, tudo foi bem melhor, mas simples,até os mínimos detalhes fizeram uma grande diferença.
Cheguei em casa almocei e fui para o hospital para começar a fazer o tratamento,eu tinha medo dele,esse tratamento iria ser mais pesado,mais agora eu tinha força de vontade,e uma grande motivação. Esse tratamento não iria impedir a minha morte,mais iria reduzir a velocidade da chegada dela,e iria melhorar a qualidade desses meus últimos dias. Eu decidi começar o tratamento pelo amor do Augusto,se eu vivesse mais tempo e melhor,nós poderíamos nos ver mais vezes e ter momentos como os de ontem.
A doutora Lígia me ajudou muito,eu perdi o medo e confiei inteiramente no trabalho dela,eu estava ficando muito cansada com todos aqueles exames,remédios e aparelhos ligados em mim,no fim me senti muito mal,parecia que não iria aguentar,uma tontura me invadiu,perdi meus sentidos e desmaiei.
Acordei em um quarto de hospital com o Augusto do meu lado segurando a minha mão,eu não estava cem por cento,mais me sentia bem melhor.
-Ei,Anie está melhor?
-Melhor agora,mais o que aconteceu?
-Você desmaiou,mas a doutora disse que é normal,no começo todos os pacientes desmaiam,mais com o tempo o corpo se acostuma.
-Eu acho que vou desistir Augusto,não quero passar por isso de novo,e olha guto,olha esses aparelhos...eles são horríveis,eu não quero mais isso.
Eu comecei a chorar,ele se segurou mais deixou uma lágrima escorrer pelo seu lindo rosto.
-Nada disso Ani,você precisa ser forte,eu sei que é difícil mais vai ser bom para sua recuperação,quando você se sentir fraca lembre-se que eu Te amo,e tenha fé.
-Guto,é só por você que eu faria isso,mais eu não sei se vou aguentar,eu também te amo mais eu tenho medo.
-Não,não sinta medo nós vamos sair dessa ,com o tempo você vai melhorar e ver que vale a pena,e em cada sessão seu corpo se acostuma e você vai viver melhor.
-Você é a melhor pessoa que existe,Obrigada por estar aqui.
-Obrigado,você por existir.
Embora eu estivesse muito mal,foi a melhor coisa que eu pude ouvir,a coisa mais bonita que já me disseram,agora eu tinha certeza eu o amava,e amava de verdade como nunca aconteceu comigo antes.
Sai do hospital acompanhada pelo guto,e nós fomos para minha casa,minha mãe se assustou comigo,eu estava muito pálida parecia uma estátua feita a gesso. O guto achou melhor ir embora e deixar minha mãe cuidar de mim,eu não tive forças nem para pedir que ele ficasse. Nessa noite enquanto minha mãe cuidava de mim eu senti muitos enjoos,até que não aguentei e coloquei tudo para fora,tudo?eu não tinha nada no estômago,mais meu corpo pareceu não saber disso.

                                          No dia seguinte (sexta-feira)

Enfim eu melhorei e dormi,um sono profundo invadiu o meu corpo,eu dormi a noite inteira como um bebê recém nascido. Hoje eu não teria de ir ao hospital,meus tratamentos foram reduzidos para dois dias por semana.
Infelizmente estava sozinha em casa,meus pais trabalhavam muito para bancar o meu convênio,e os tratamentos a parte,mais eu queria te-los mais tempo,para eu curtir eles antes de tudo. Eu já conseguia levantar da cama,tive um pouco de dificuldade para descer escada,mais já estava melhor,quase inteira.
A campainha toca,eu pensei que fosse meu almoço,minha mãe iria pedir algo pronto para mim,eu não estava em condições de cozinhar e ficar no calor do fogão. Quando vou atender a porta tenho uma surpresa,era meu almoço,mais junto com ele estava o guto. Eu fiquei tão feliz,que quase não coube em mim.
-Nossa vejo que você já melhorou,está ótima!
-Ah,não precisa mentir guto,mais eu estou melhor sim.
-Não estou mentindo,você está ótima,está linda.
Até a falsidade dele era perfeita,ele sabia me agradar,e sempre dizia o que precisava ouvir.
-Entre,ou quer ficar para fora?
-Se você ficar comigo tudo bem.
Nós rimos.
-Eu prefiro aqui dentro,entre.
-Ok,senhorita Ani,mas vai ter que me prometer que vai almoçar tudo isso aqui.
-Tudo?Mais e você não vai almoçar comigo?
-Não seja boba,promete que come toda a sua metade?
Sorri.
-Prometo, senhor.
Foi um almoço maravilhoso,agora eu estava bem,inteira. Todas as dores sumiram,ele era engraçado,amigo,compreensível,tudo que eu precisava em alguém,ele era tudo que eu precisava.
-Já que almoçamos Ani,eu quero te levar para um lugar se você estiver bem.
-Eu estou ótima lembra?
-(risos)Então aceita sair comigo?
-Para onde guto?
-É uma surpresa,perde a graça se eu contar,você não acha?
-Tá eu vou me arrumar já volto,espere.
-Pode ir eu não saio daqui por nada.
Quando fui subir as escadas até meu quarto uma tontura chegou de surpresa e eu quase cai,foi ai que guto me pegou nos braços e subiu comigo até meu quarto.
-Tem certeza que está bem?Acho melhor nós irmos outro dia.
-Não,guto eu estou bem e quero ir hoje,e eu tenho você para me ajudar.
-Eu estarei em qualquer lugar para te ajudar,mais não quero te expor.
-Eu estou bem guto,agora me dê licença vou me trocar.
-Estou esperando lá embaixo.
Eu me troquei,eu realmente estava bem,foi só uma tontura boba na hora errada. Eu estava curiosa para saber onde iríamos,a ansiedade era meu ponto fraco. Me troquei quando sai do quarto,o guto não havia descido e estava no corredor rindo e olhando para umas fotos.
-Bonito né,rindo do meu passado constrangedor?
-Você era tão linda,ou melhor você ainda é linda,mais olha que gracinha você de fralda brincando com bonecas?
Olhando aquelas fotos eu comecei a lembrar do passado,dos meus pais,da minha vida antes da doença,e uma coisa horrível me tomou,eu não queria fazer da morte e da doença o meu único assunto,e pensamento.
-É eu era linda mesmo,mais agora vamos porque eu estou muito curiosa.
-Então vamos.
Pegamos um ônibus,o caminho era longo mais a paisagem era perfeita,tudo muito lindo de verdade. Descemos do ônibus,e andamos um pouco de a pé, quando estávamos próximos do lugar,ele tampou meus olhos e me guiou. Ele me virou de costas ,me pediu para manter os olhos fechados e só abrir no três.
-1,2 e 3!
Quando me virei e abri os olhos,imaginei que ali era o céu e ele era o meu anjo,o anjo que Deus me enviou para me salvar da vida que eu levava e me transformar na pessoa mais feliz do mundo. Era um lugar maravilhoso,cheio de flores lilás,rosas e brancas,uns caminhos de pedras que nos levava a um campo enorme e gramado,e a vista de lá?Mais flores,e um céu impecável,o sol estava escondido entre as árvores permitindo a visão perfeita e uma sombra incrível .O lugar mais lindo que existe no universo.
-Ani,você não gostou né?
-Pelo contrário eu adorei,é maravilhoso!
Eu pulei em cima dele e o abracei,ele retribuiu o abraço e nós corremos para o gramado,nos sentamos e ficamos ali em silêncio,quando ele se virou para mim e disse:
-Eu preciso te dizer uma coisa.
-Pode dizer,eu estou ouvindo.
-Todos esses dias eu comecei a sentir uma coisa aqui dentro de mim,uma coisa diferente que eu nunca senti,pelo menos não dessa forma. Toda vez que eu te vejo eu me sinto inteiro,completo e quando a gente se despede é como se tirassem um pedaço de mim, e um pedaço que faz falta .Eu não sei mais viver sem você Ani,eu te amo.
-Ah guto eu também te amo,eu quero que você fique comigo para sempre.
Estava tudo tão perfeito,mais quando tudo iria ficar melhor,quando nós iríamos nos beijar meu celular toca. Quando olho é minha mãe. Eu me lembrei que não tinha avisado onde iria e nem quando voltava, e tivemos que voltar.
-Desculpa guto,mais eu tenho que ir,minha mãe está preocupada e o caminho é longo.
-Tudo bem Ani,nós temos muito tempo juntos,e eu ainda vou te amar amanhã.
Enfim nós nos beijamos,mais perfeito impossível,de fundo um por do sol lindo,foi inesquecível. Ficamos ali juntos por mais alguns minutos e fomos embora. O ônibus não demorou muito e chegamos logo em casa,infelizmente,e então nos despedimos.
-Tchau Ani,até amanhã.
-Tchau Guto,até.
-Te amo.
-Também te amo,muito.
Nos despedimos com um beijo,e eu entrei .Minha mãe me esperava com um sorriso enorme no rosto,parecia que ela é quem tinha vivido o meu dia,fiquei um pouco tímida e ela percebeu.
-Oh,não fique assim Ani,eu sou sua mãe.
-(risos tímidos)Ai,mãe você anda espiando a sua filha?
-Foi sem querer eu juro. Você quer me contar o que aconteceu?
Eu contei para minha mãe tudo exatamente como aconteceu,ela se apaixonou pelo guto,e eu mais ainda cada vez que recordava esse momento,cada vez que lembrava daquele sorriso,dos olhos verdes sorrindo junto,do cabelo,do cheiro,da voz...Eu me apaixonava por ele cada dia mais,e cada dia eu me surpreendia com o amor dele.
                      
                                         No outro dia (sábado)

Eu amava sábado,era um dia sem aula,dia de folga,mais esse sábado eu não quis que chegasse. Hoje eu teria de ir ao hospital para meu tratamento,dessa vez meu pai,minha mãe e o guto estavam lá comigo e isso me deu forças. As pessoas que eu mais amo na vida do meu lado.
Dessa vez eu só senti enjoos e uma dor fraca na cabeça,mais já era melhor que as dores de antes. E eu estava feliz pelos rumos da minha vida e por todas coisas que aconteceram nos últimos dias.
A minha médica pediu para conversar comigo e com minha mãe,eu fiquei nervosa e com medo,o que ela queria,será que era grave.
-Anie,e Márcia o organismo da sua filha não estava aceitando alguns remédios e não respondia mais aos tratamentos,mais agora com esse tratamento mais pesado,o organismo dela está reagindo e nós temos uma saída para evitar a morte dela.
-MORTE? Como assim doutora?Do que você esta falando?
-A senhora não sabia?Nós tínhamos dado pouco tempo de vida para a Anie,pelos rumos que os exames levaram,mais agora temos chances.
-Eu não sabia de morte nenhuma doutora. Anie porque você não me disse?.
Me senti culpada,tentei evitar o sofrimento dela,mais ele veio mesmo assim.
-(entre lágrimas)Ah,mãe não  queria te ver chorando e sofrendo por mim.
-Ah,minha querida não se preocupe comigo,eu te amo.-me abraçou- Mas doutora qual é essa chance?
-Eu estava estudando o caso dela,a evolução com esse novo tratamento e descobri que podemos reverter o quadro de morte dela, ela pode fazer uma cirurgia e teremos chances.
-E como é essa cirurgia?-perguntei receosa.
-Não se preocupe Anie,é uma cirurgia delicada mas sem riscos. O procedimento é o seguinte,nós faremos uma transfusão de sangue,e limpar o teu sangue da doença.
-Mas doutora se é simples porque não fizeram a cirurgia da minha filha antes?
-Porque não é certeza de melhora,a doença pode estar no organismo dela,e em qualquer sangue ,ela volte. Antes o organismo não reagia e isso poderia dificultar o trabalho e a cirurgia poderia ser fatal. Como o quadro dela evoluiu as chances de morte diminuem e as de cura aumentam. Mas antes precisamos que as duas estejam de acordo com os procedimentos.
-Mãe,eu quero fazer a cirurgia.
-Mas filhaa...E se não der certo,e se a doença estiver com você?
-Mãe como eu vou saber se ela está comigo ou não se não tentar?Eu quero viver mãe,eu quero fazer a cirurgia.
Nós choramos,e ela se calou por alguns instantes me abraçou,e por fim disse.
-Filha,se Deus me deu você, uma vez ele pode me dar de novo.Doutora aceitamos fazer a cirurgia dela.
-E mesmo que a doença esteja com ela ainda há chances de melhorar a qualidade de vida dela. Vamos marcar a transfusão para fim de março.
Eu sai daquela sala aliviada,eu teria uma chance de sobrevivência,nem tudo estava perdido,eu poderia ter mais tempo pra mim e para o guto,curtir mais a minha família e a minha vida,eu teria minha vida de volta. O guto já estava preocupado lá fora.
-Meu amor o que a doutora queria com vocês?
-Aaah! Meu amor eu tenho tanto para falar,é uma história muito longa,vamos para casa e eu te conto lá.
Eu achei melhor contar tudo em casa assim falaria uma fez só para todos,eu devia uma explicação a todos ,e iria dar essa explicação. Chegando minha mãe fez um jantar e na mesa eu comecei a explicar.
-Então,na terça-feira no dia em que conheci o Augusto eu tinha ido fazer uns exames para saber como andava a minha saúde,pois o diagnóstico apontou melhoras sobre os tratamentos .Mais na terça foi diferente a médica disse que devido a reação do meu organismo em consideração com o tratamento eu não teria muito tempo de vida,o meu organismo não aguentaria tanto tempo. Eu não quis contar a ninguém,eu não queria os ver sofrendo como eu estava sofrendo,e amo todos vocês e queria o bem de todos e não suportaria os ver chorar.
Todos ali na mesa choraram,até meu pai deixou lágrimas escorrerem pelo seu rosto,o Guto ficou um pouco abatido e me perguntou:
-Mas a doutora queria falar sobre isso com vocês?
-Não, ela quis falar sobre uma expectativa de vida para mim,eu ainda tenho chances de ter uma vida normal. Se eu fizer uma transfusão de sangue,eu posso viver  com qualidade.
-É mais-Minha mãe interrompeu- A doença pode estar no organismo dela e mesmo com a cirurgia ela ainda pode ser portadora da doença. Mais mesmo que o organismo dela tenha absorvido a doença ela tem chances de melhora.
-Oh minha filha então quer dizer que nós teremos você por mais tempo?
O meu pai disse essas palavras chorando como uma criança,e me abraçou.Aquele abraço foi tão bom que eu me derramei em lágrimas,todos me abraçaram e eu me senti a pessoa mais completa do mundo. A seis anos não vejo o meu pai daquele jeito e em todo esse tempo eu não recebia um abraço dele. Ele trabalhava muito por mim,mais não tinha tempo para me paparicar,e ver ele daquele jeito me deixou muito feliz.
Eles prometeram dedicar mais tempo a mim,serem mais presentes,e realizar os meus sonhos.

                                           No dia seguinte (domingo)
Hoje logo que acordei o guto me ligou,me convidando para ir até a casa dele,a sua mãe queria me conhecer,e disse que precisava falar comigo,e era importante.
Mais tarde me arrumei e fui até a casa dele,que não ficava muito longe da minha. Chegando lá ele me recebe na porta:
-Oi meu amor!
-Oi guto!
Ele olhou para mim e sorriu.
-Você está ótima,está mais linda que antes.Eu preciso falar com você,mais não sei como dizer.
-Guto,meu amor assim você me deixa nervosa.
-Olha antes de tudo eu quero que você saiba que eu te amo,e que eu nunca vou te abandonar. Mais eu preciso muito de você,agora mais que nunca,você me promete que vai ficar do meu lado sempre?
-Guto claro que vou ficar com você,eu nem consigo ficar sem, eu também preciso de ti.
-Eu estou com muito medo de você partir e me deixar aqui,porque eu estou muito apaixonado por você. Não queria falar isso já que para você isto está sendo muito difícil. Mais eu te amo muito,e quero estar com você todos os nossos dias.
Nós nos abraçamos e choramos um pouco,mais estava determinada a não sofrer mais pela minha morte,e tenho certeza que Augusto me ajudará muito na minha melhora.
-Mais agora vamos né Ani,minha mãe quer te conhecer.
-Eu também quero conhece-la.
A casa de guto era muito linda,era enorme. Enquanto iríamos para a cozinha onde a mãe dele estava,tinha um aparador com muitas fotos,das antigas até as mais recentes. Na sala de jantar havia um retrato enorme de um homem,ele era bonito e me lembrou muito o Augusto,devia ser o pai dele. Guto me viu olhar para esse retrato com atenção,ele olhou também e a expressão dele ficou muito triste,e antes que eu pudesse notar ele chamou sua mãe.
-Mãe!!Chegamos.
Ela veio até nós,quando olhei para ela me encantei,ela era muito linda,o rosto delicado,uma pele de bebê,olhos claro e cabelos negros com lindos cachos na ponta,não era tão jovem mais escondia a sua idade naquele rosto de princesa.
-Oi querida,o Augusto fala tanto de você!Nossa como você é linda,meu filho tem muita sorte.
-Oi,ah que isso?A senhora que é muito bonita.
-Magina, e pode me chamar de Vanessa,ainda não tenho idade para ser senhora.
Nós rimos e ela nos conduziu a mesa,sentamos e logo ela nos serviu o almoço,e que almoço. Rosto de princesa e mãos de fada,parecia um sonho. Conversamos muito,rimos bastante e diria que ficamos íntimas.
O meu maior defeito é fazer perguntas impróprias a pessoas que não gostam de tocar em certos assuntos,mais como eu iria saber o que se passava ali,já que guto não me contara antes.
-Aquele homem no retrato é seu marido Vanessa?
Senti um clima um pouco pesado,guto bateu o copo na mesa e saio com a desculpa de buscar mais refresco. A mãe dele percebeu o meu susto e me explicou a história de forma resumida antes que ele voltasse.
-Sim este era meu marido,ele morreu a três anos. Augusto não gosta de lembrar do pai,e me pede com frequência para que eu tire este retrato da parede. O pai era muito rígido com ele,os dois viviam discutindo,e quando pai e filho fizeram as pazes e puderam viver em paz e harmonia meu marido em pouco tempo faleceu .Ainda é tudo muito recente para ele,eu sei que ele ainda sofre muito com a perda do pai.
-Eu não devia ter perguntado.
-Não minha querida não se culpe,sabemos que a culpa não é sua.
Quando ouvi passos de guto voltando mudei o assunto de rumo e comecei a contar do lugar onde guto havia me levado na sexta,e ela me contou que já conhecia,mais não se lembrava das flores. O domingo foi perfeito mais eu tinha que voltar para casa. Me despedi da Vanessa e fui com guto até o portão.
-Desculpe por ter falado do seu pai guto,eu não sabia.
-Tudo bem Ani,a culpa não é sua. Eu não fiquei com raiva de você,mais por me lembrar da história.
-Me desculpe. Quando você quiser conversar sobre isso eu estarei aqui.
Não pensei que seria agora mas meio emocionado ele começou a contar a história.
-Eu e meu pai brigávamos muito,nunca fomos muito próximos,ele não era um pai presente. Mais um dia ele teve uma conversa comigo que me fez enxerga-lo de outra forma,eu não sabia o que estava acontecendo mais ele queria fazer as pazes comigo de verdade,a partir desse dia nós fizemos tudo o que pais e filhos fazem,ele foi meu melhor amigo,eu contava tudo para ele. E num dia enquanto jogávamos futebol,ele desmaiou na minha frente,eu fiquei assustado mais não imaginava o que estava acontecendo,liguei para minha mãe vir nos buscar,ela entrou em grande desespero,eu fiquei muito triste e perdido com aquela cena...-lágrimas começaram a surgir nos seus olhos.
-Tudo bem se não quiser continuar guto,você não precisa me contar essa história.
Ele me ignorou e continuou a relatar a cena que me arrepiava a cada sílaba pronunciada.
-...Chegando no hospital meu pai foi internado na U.T.I,em estado grave,eu não entendia o que acontecia ali,o que estava acontecendo com meu pai. Minha mãe estava em estado de choque e não parava de soluçar e pedir a Deus que não tirasse meu pai da gente,e ver aquela cena me deixou muito triste. Alguns minutos depois o médico muito profissional nos deu a notícia da morte de meu pai,eu corri do hospital desesperado,e muito triste.
-Guto,você me ama? De verdade,eu não quero que você sofra tudo isso de novo,nós sabemos que eu não terei a vida toda,eu não quero saber que você se sentira mal quando eu partir. Eu desejo muito te ver lá do alto,acompanhar a tua trajetória mais o meu sofrimento será muito menor que o teu que estará na terra,eu não quer te ver sofrendo la de onde estiver. Não podemos ficar juntos,não quero que você sofra.
-Ani,você está sendo cegada,se você se afastar de mim agora eu sofrerei duas vezes,sofrerei agora e depois. Mais não vamos pensar nessas coisas,eu não quero te perder agora e saber que você está viva e precisando da minha ajuda e do meu apoio.
Por mais que eu saiba que Augusto estava certo eu não queria queria vê-lo sofrer em momento algum,mas já era tarde demais para isso,estávamos envolvidos não havia outra forma de se afastar a não ser o ódio,ele é o único que se encarrega de destruir o amor em uma tacada só. Estava decidida,para Augusto não sofrer ele deveria sentir ódio de mim,vou faze-lo antes que seja tarde demais.

                                                No outro dia (Segunda-feira)
É hoje...Hoje que eu vou assinar a minha sentença,hoje enfiarei um punhal no meu peito,e acabarei com minha vida,serei uma morta com o coração batendo,sem motivos mais mesmo assim batendo.
Sai de casa mais cedo que o de costume e fui para um lugar onde saberia que o Guto passaria,eu estava lá tremendo,ansiosa,e com muita determinação,seria agora ou nunca. Esperei alguns minutos mais logo avistei Augusto ele estava incrivelmente lindo naquela manhã,cogitei a hipótese de desfazer o meu plano,mas não podia. Minha saída seria resistir o charme dele e completar aquele projeto inacreditável que passava pela minha mente.
Olhei para os lados e não encontrei mais ninguém na rua,eramos só eu e Augusto,mais e agora? Guto começou a correr em minha direção,e eu? Estava totalmente imóvel quando senti os seus braços me segurar como se ele quisesse impedir a minha queda de um alto precipício,e era como se fosse. A imagem daquele rapaz que eu conhecera a tão pouco tempo e tão essencial em minha vida,congelou. Rostos estranhos apareceram,pessoas começaram a me encarar de forma assustadora,meu corpo não reagia a minha vontade de fujir. Nesse momento eu já estava deitada no meio da rua,ninguém atendia a meu chamado de socorro,choros e gritos foram chegando perto do meu ouvido,pedidos de “não me abandone” tomou conta daquele lugar que eu já não reconhecia. A imagem sumiu,e eu de forma surpreendente estava em um lugar muito bonito,estava vestida de branco e pássaros de diversas cores estavam me rodeando e o meu corpo começou a levitar e comecei a rodar de forma desenfreada e frenética,o desespero tomou conta da alegria que estava em meu coração,senti um choque muito grande e adormeci.
Alguns minutos depois acordei em uma enorme sala toda coberta de ouro e diamantes uma voz grave ao mesmo tempo doce me pergunta qual o meu desejo,o que eu mais queria na vida,e eu sem pensar duas vezes respondo:
-O que eu mais quero na vida,é viver. Eu preciso viver,preciso ajudar as pessoas ao meu redor,alegrar a minha família,ter tempo de realizar meus sonhos,de fazer as pessoas felizes. Eu não posso partir antes de completar a minha missão.
Uma lágrima escorreu sobre o meu rosto,e a doce voz me atende:
-Minha querida o seu desejo será realizado com uma condição,quando a sua missão estiver cumprida eu te trarei para viver comigo. Volte e seja feliz.
Nessa hora uma forte dor tomou conta do meu corpo,senti com forte pressão,senti cada gota do meu sangue circular nas minhas veias,meu coração começou a bater,e eu pude sentir cada parte do meu corpo despertar e seguir a suas funções naturalmente.
Algum tempo depois.
Horas e horas se passaram até que vozes conhecidas foram entrando na minha mente,fiz muita força para acordar mais parecia impossível,mantive a calma e pensei esperar que acontecesse na hora certa,pelo menos sabia que estava viva,eu tinha ganhado uma chance de viver,e isso me fazia muito feliz. As vozes se afastaram devagar,até que o silêncio se tornou inquebrável. Sinto uma respiração suave e um tanto fria perto do meu ouvido,percebi que tinha alguém ali comigo,e sabia que essa pessoa precisava dizer algo para mim,tranquei todos meus pensamentos e esperei a mensagem que começou bem leve,doce e com um amor muito forte,sabia que era Guto,pude sentir meu corpo se arrepiar,fiquei um pouco ansiosa mais cadê a voz?De repente ela começa,parecia na metade da frase mais eu pude ouvir e entender o que Augusto queria me dizer.

-...que você faria!Dormindo na noite passada eu tive um sonho muito ruim,onde você me traia com uma outra pessoa para que eu sentisse ódio de você e talvez me afastar de ti,mais sabe o que aconteceu?Eu não me aborreci e muito menos me afastei da sua vida,eu esperei a tua loucura passar para te dizer...-O silêncio mais uma vez aparece para fazer com que a minha curiosidade aumente e o desespero arrisca aparecer mais é intimidado pela voz doce de Augusto-...Te dizer que eu a amo,e que sempre estarei perto de ti onde quer que esteja,eu sempre vou te ajudar,te fortalecer,nunca te abandonarei,nunca,porque...
A mensagem é interrompida pelo choro,mais o que mais me deixou assustada foi como ele descobriu o meu plano de deixa-lo com ódio de mim?Confesso que fiquei muito feliz em saber que nem assim ele me deixaria,mais não queria vê-lo sofrer .A voz surge mais uma vez.
-Escute,quero que esqueça o fato de que irei sofrer seja lá quando essa tragédia acontecer,eu só quero que você nunca me deixe,eu quero estar com você a cada dia,a cada minuto,cada segundo. Eu preciso estar com você,e que só e apenas a morte nos separe. Eu te amo.
Nesse momento eu lutei e relutei para acordar mas foi inválido,eu precisava dizer a ele que estaria com ele sempre durante todo o resto da minha jornada mais eu não pude. Logo senti que estava sumindo,e eu realmente sumi,por alguns instantes eu não estive aqui,mas também não estive em lugar algum.
-Ani,você está me ouvindo?
Sim eu estava,mais não estava enxergando,ou melhor não estava reconhecendo o lugar onde estava e nem a pessoa que falava comigo,era uma criança muito linda,um menininho encantador,me parecia um anjo,aquela face olhando bem de pertinho nos meus olhos,e com um sorriso branco da cor da neve me fez a ter ânimo para responder:
-Sim eu estou ouvindo.-O rosto daquela criança se encheu de alegria,uma alegria contagiante e inquieta,e antes que eu pudesse perguntar seu nome ela saiu correndo,e com sorrisos imensamente abertos e chamou alguém que estava para fora do quarto do hospital.
Ouvi passos se aproximando e fiquei feliz em saber que reencontraria minha família. Um rapaz se aproxima olha para mim com atenção e ternura,e olhando o rosto dele um tanto quanto familiar percebi que era Augusto,sim o meu Guto,estava mais velho e ainda mais bonito.
-Anie,-disse ele empolgado e me dando um beijo na testa-Não está me reconhecendo é?Acho melhor você não conversar muito e ficar na cama até que alguma enfermeira venha te ajudar.
Eu estava com muita sede de notícias eu queria muito saber sobre as coisas que aconteceram no tempo em que adormeci,e porque ele estava diferente,quanto tempo se passou?Eu precisava saber das coisas, de tudo.
-Oi Ani,meu nome é Gabriel,eu sei que você não me conhece ainda mais eu já te conheço. Sabe que em todo esses dois anos eu vim te visitar?Pois é!E o Augusto me falou muito bem de você,e você foi minha melhor amiga.-Ele deu um beijo no meu rosto e eu pude sentir um sorriso se abrir na minha face. Mais logo ele se desfez,dois anos?Eu fiquei aqui dois anos?
-Ani,eu vou chamar uma enfermeira,fique aqui com o Gabriel.
Involuntariamente eu segurei o braço do Guto,eu não queria que ele se afastasse,eu precisava dele,eu queria ele ali. Ele fez um gesto para que o menininho fosse buscar a enfermeira.
-Tudo bem Ani eu estou aqui,eu sempre estive aqui e sempre vou estar. Não se preocupe está tudo bem,estão todos bem.
Ele segurou forte a minha mão passando toda aquela energia que ele me passava. Estava com saudades daquelas mãos nas minhas,estava com saudade da voz,do olhar,do sorriso e de tudo nele,de tudo em nós.
A enfermeira chegou me examinou e colocou alguma coisa no soro que me fez adormecer,confesso que quis matar a médica,eu não queria dormir,eu queria falar com Guto e saber das pessoas que amo,mais talvez eu precisasse dormir naquele momento.

                                           Dia seguinte (quarta-feira)
Acordei bem e disposta nessa manhã,olhei a minha volta e encontrei minha mãe dormindo em uma poltrona,fiquei assustada,minha mãe estava tão abatida,com olheiras profundas,o mesmo rosto bonito mais agora tão triste. Me senti horrível nesse momento,uma culpa me invadiu,eu tinha sido muito cruel e não só com ela,mais com todos aquele que amo,e o que me conforta é o fato de que eu estava aqui ,e viva para poder reparar todo o dano cometido,traria o sorriso de volta à minha mãe,embora esse sentimento fosse exibido,eu me sentia feliz em vê-la novamente,pude sentir o tempo que estive fora do ar,sentir a dimensão da falta que sentia de falar e olhar para ela.
Ela abre os olhos devagar me olha como se ainda estivesse sonhando,e abre um sorriso se levanta e vem até a mim. Encontrei forças e abri os braços a chamando para um abraço,ela corresponde o ato e derrama algumas lágrima e solta alguns gemidos,eu sabia que não era de dor,mais foi um pouco ruim para mim ouvir aquilo e saber que todo esse tempo ela soluçava dessa forma sem saber que eu viveria para poder abraça-la.
-Minha filha,Anie...Eu não posso acreditar que seja verdade,você está aqui, você é minha de novo. Oh!Minha filha eu a amo.
-Também te amo mãe,que saudades.
Pude perceber que já não era pensamento,eu estava falando,falando com a minha mãe. Eu precisava ver meu pai,e o Guto. Antes que eu terminasse a minha fala meu pai entra no quarto,emocionado e com umas flores na mão. Ele coloca as flores na mesinha e vem ao meu encontro,nos abraçamos forte,depois todos os três estávamos juntos num abraço confortante,e derrubamos várias lágrimas,e vários sorrisos se abriram.
Mais tarde conversando com minha mãe descobri que Gabriel era portador da mesma doença que a minha,"Ele numa tarde dessas veio até seu quarto sem ninguém perceber e começou a conversar contigo e jurou que você respondia as perguntas,quando a porta se abriu e Guto veio ficar com você enquanto eu descansava em casa. Gabriel se escondeu debaixo da sua cama,mais Augusto percebeu que havia alguém ali pelas respiração ofegante do garotinho. Guto agachou no chão e levantou o lençol e viu Gabriel encolhido e perguntou o que ele fazia debaixo da cama,o garoto respondeu que ficou com medo de levar bronca por estar conversando com a menina que estava dormindo na cama.
Augusto disse que ele não levaria bronca e que embaixo da cama tinha muita poeira que o faria ter alergia,e o ajudou a sair dali. Os dois conversaram muito naquele dia,o garoto queria saber o motivo de você estar dormindo muito,e quis saber tudo sobre a sua vida,os dois viraram melhores amigos,você tinha que ver filha,o Augusto parecia criança. E a partir desse dia Gabriel vem te visitar todos os dias”.Depois que minha mãe terminou a história ouço alguém bater na porta,meu pai abre a porta e eu vejo Augusto,era incrível como em cada vez que eu o via meu coração acelerava e eu ficava apaixonada por ele.
Meus pais nos deixaram a sós,nós nos abraçamos e nos beijamos,foi tão bom para mim estar perto dele de novo,parecia que era a primeira vez que nós víamos um ao outro,aquele dia estava sendo perfeito.

                                             Augusto, Quinta-Feira (Alguns anos depois)
Eu não sei... Eu realmente não sei se conseguirei suportar toda essa dor que esta em mim. Sinto como se meu mundo fosse desabar, mais não posso parar agora. A morte da Anie foi muito dura para mim, mais eu preciso ser forte e cuidar da nossa pequena bella. Ela precisa de mim e eu preciso dela. Nós dois teremos juntos a força de continuar seguindo.
Anie onde quer que você esteja saiba que eu fui muito feliz com você. Eu a amo e sempre amarei. Você cumpriu sua missão e hoje faz companhia a Deus, a quem agradeço todos os dias por ter te colocado na minha vida, eu não o culpo por ter te levado, mas isso me doeu muito.


pruof: Meses depois Augusto estava dirigindo seu carro a caminho da escola de bella quando um motorista bêbado em alta velocidade colide com o carro de Guto. Pai e filha morrem na hora. Hoje Anie, Augusto e bella vivem felizes onde nada poderá separa-los.

Escrito por: Natália Bap.

Nenhum comentário:

Postar um comentário