terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Seu homenzinho de lata.

“Ela andava pelas praças, pelos bairro, nas vilas, nos bares. Andava sempre com seu homenzinho de lata, que a cada passo que dava rangia os bracinhos. Os dois adormeciam cada noite em um pedaço de céu diferente, em dias de chuva se protegiam em baixo de uma velha arvore, destas cheias de galhos e folhas, destas que acolhem. A pequena e seu homenzinho, viviam sem rumo, não conheciam ninguém. Só havia um senhorzinho que lhe oferecia uma xícara de chá e bolo todas as manhãs, ela aceitava, mas não porque tivesse fome, aceitava por educação, para que aquele homem nunca se esquece de ser gentil. Tomava seu chá, e partia. Vagava pelos cantos da cidade, passava por vales perigosos, mais nada daquilo intimidava a pequena. “Pobrezinha, tão nova e já vive tão sozinha.” Algumas senhoras pensavam, mais o homenzinho de lata era a melhor companhia que ela precisasse ter, pois ele não questionava, não dava-lhe conselhos, não lhe julgava, só fazia silêncio, a não ser pelos rangidos de seus membros enferrujados pela chuva. A alma da pequenina também estava enferrujada, mas não era pela chuva não, era pelo desmazelo, pelo ímpeto de suas vontades, por viver sem receber nada em troca. Seu vestidinho rasgado estava enlameado, os cabelinhos louros estavam presos e cheios de folhas e gravetos, a boquinha estava cortada, as mãozinhas estavam raladas, o coraçãozinho vazio. Deixou o homenzinho de lata cair no asfalto, olhou para o céu -que mais uma vez teimava em chover- e ficou ali, pedindo com os olhos, implorando socorro, esperando um alívio. O senhorzinho do bar correu em sua direção mas foi tarde, uma lambreta amarela a atingiu, não tinha força nem mesmo velocidade, mais era o alívio da pequenina, o que ela pedira aos céus. Seu corpinho ficou ali no asfalto ao lado de seu homenzinho, os dois encharcados de dor, e ninguém quis tocá-los. Ninguém antes parecia se importar, mais em todos olhos havia saudade ou pena, todos levaram flores, palavras e força, coloriram-lhe a vida no seu leito de morte.”

Natália Bap

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