terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cartas de Lucéli I

“Proença, 27 de Agosto de 1994

  
    Queridos, escrevo com os olhos apertados, transbordando a vida toda por eles. Hoje caminhei pela avenida desorientada, completamente perdida. A vista na janela do bonde era cinza, obscura e repleta de sombras mortas. Já vos contei que certo dia me vi sentada no banco da praça contando história aos pombos? Me vi em todos os cantos deste lugar, em cada casal apaixonado, em cada criança que sorri ao ganhar um balão colorido. Eu me via e hoje não existo. Escrevo a vos para que saibam que ainda os espero. A saudade aperta no peito desde que partiram para a luta. Sei que vencerão, mas meu coração com vocês está, cuidem bem dele. Desculpe-me pelo estado em que o mandei.
Hoje o salão estava fechado não pude recordar as nossas danças, os bailes e as festas. Ah! Me sinto tão machucada. Os teus afagos me fazem falta, em que ombro posso chorar minhas dores agora? O quarto de hospedes está vazio, e ninguém pode experimentar minha sobremesa. Amigos queridos, fazem falta em meu apartamento vazio. Quero-os logo, de imediato. A lareira me faz companhia nas madrugadas em que choro.
Agora as palavras fogem, devo encerrar antes que me acabe em pranto. Devo despedir-me antes que me desmanche em rios."

                                                                                       Afagos meus queridos.
                                                                                                                 Lucéli.

Natália Bap

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