terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Quando vivi em ti.



“Foi muito bonito ter vivido em ti, em todas as tardes de verões que passeamos por cada canto de nós mesmos, de todas as chuvas que tomamos e bebemos, de todos os sonhos que vivemos, e cada espaço que nossos corpos tomaram depois da chuva, das curvas, das curvas perigosas que nos desviaram do caminho, que retomávamos mais tarde fingindo não nos perder, e de todas as vezes que nos perdemos em meio de nós mesmos, na sala, na vida a fora, no jardim e no nosso lugar de amar. Foi bonito tudo o que se disse, e o que se guardou pra ouvir, o que deliciou, o doce que a alma se alimentou, os pilastres que sustentaram, os medos que se venceu, do amor que se viveu, dos livros que se escreveu em meio a tantas confusões e beijos, de toda a bagunça que fez em meio a tanto choro que se calou a boca.  De todo os sóis que se puseram, de todas as luas que cresceram, de cada jardim que floresceu, de todas as águas que passaram. A cada prantinho que desfalecia o coração que regado era pelas palavras do amante, que me conduzia ao delírio eterno, só pra me fazer teu. De todas as noites em claro que se passaram. Tão bonito foi viver em ti, dentro e fora, te permanecer em mim, amar-te me fez bem, me fez eterna e compulsiva por sentimentos traiçoeiros e arrebatadores, que hoje me faz buscar a cada olhar um pedaço dele, em cada sala os nossos sonhos deitados, amando no chão. Talvez nunca mais sentiremos tamanha loucura ao amar, mais a nós pertenceremos até o fim, e dentro ainda terá você e eu, grudados, juntos em qualquer lugar, no êxito de viver e sentir de novo o mesmo prazer, este mesmo de viver. Em cada poça de chuva, em cada valsa mal dançada, em todos os gritos de silêncios da alma, em todas as capas, cartões de natal, tapetes manchados, copos quebrados, desvio de luz. E o mínimo de consciência que se sobra, se desvanece por entre os corpos, que exalam tom, cor e sabor de amor, loucura, delírio e viver. E do que se resta será absorvido por entre as veias, os poros e suor, e que essa paixão queime ainda a palha que lhe reste antes da ultima partida”

Natália Bap

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